Há um tempinho, vínhamos percebendo uma mudança na saúde do Guilherme. Descobriram então que ele estava com compressão medular, problema comum para os portadores de MPS.
Os dias se passaram e começaram a vir as complicações. Ele não conseguia ficar em pé, pois não tinha sustentação nas pernas, não conseguia se sentar, até que ficou tetraplégico e para piorar, a compressão ocasionou um problema de baixa oxigenação e freqüentemente ele se encontrava roxinho e sofria muito com essa falta de ar.
Nesse meio tempo, foi recomendado a realização de uma Ressonância Magnética para saber os detalhes da compressão. A mãe dele foi marcá-la em fevereiro, mas só tinha vaga para outubro pelo SUS, Sistema Único de Saúde, e ele não podia esperar.
A Associação Paulista de Mucopolissacaridose pagou pela Ressonância para que fosse feita rapidamente.
Foi levado o resultado para um neurocirurgião do SUS e ele foi internado para a cirurgia de descompressão no próprio HSP, mas algumas horas depois ele teve alta com alegação de falta de UTI, com a promessa da neurocirurgia remarcar a intervenção cirúrgica em breve.
Em julho, a mãe de Gui, dona Marli, procurou a neurocirurgia e esta disse que ainda não tinha vaga para operá-lo e que iam, portanto, reavaliar a conduta em janeiro de 2011. (lembre-se: ainda era julho)
A mãe, então, voltou a procurá-los em janeiro último e a resposta foi a mesma:Não temos vaga.
Infelizmente, Guilherme não pôde esperar a vaga e faleceu.
Dona Marli, mãe de 4 filhos, além de Guilherme, também tinha Jaqueline que era portadora de MPS. Jaqueline faleceu há 5 anos. O problema no caso dela foi a falta de informação sobre a doença. Os profissionais também desconhecem a doença, taí o motivo pelo qual lutamos tanto pela divulgação.
A Associação Paulista de Mucopolissacaridose cuida de 173 portadores, maioria depende do SUS, que nem sempre responde rapidamente à necessidade deles. Infelizmente, a Associação não tem dinheiro suficiente para pagar o tratamento de tantos pacientes. E todos são urgentes!
É uma tristeza, mas é somente com as campanhas que fazemos, calendários, shows e pedidos que conseguimos dar o mínimo de dignidade a quem na verdade tem o direito à vida previsto pela Constituição!
O Brasil é conhecido pelo país do Samba. E depois do Carnaval? É também conhecido pelo País do Futebol. E quando não há jogos? Somos conhecidos por muitas coisas, mas ainda assim, há muita coisa que desconhecemos, como DIGNIDADE E ATENDIMENTO DE QUALIDADE PARA OS CIDADÃOS. E não acho que dignidade seja esperar meses em uma fila de exame ou internação à espera de atendimento que permita, no mínimo uma morte menos sofrida.
É triste o que presenciamos neste mundo.